terça-feira, 10 de janeiro de 2012

# Corredora comemora novo estilo de vida um ano após cirurgia bariátrica

Após procedimento cirúrgico de redução do estômago, Isa Varella apaixona-se por corrida e faz do esporte seu momento de lazer com saúde e bons amigos

De joelhos no chão, mãos no rosto para cobrir suas lágrimas. Não, não são de tristeza. A emoção de Isabela está atrelada a uma vitória pessoal. Hoje, ela é corredora e apaixonada por esporte, mas, há um ano, Isa tinha dificuldades em realizar os pequenos movimentos necessários no dia-a-dia.
Corrida vira paixão para paciente de cirurgia barátrica (Foto: Gleice Medeiros)Isa não consegue conter o choro após participar de treino de corrida em comemoração a um ano de operada dos sessenta quilos que ficaram para trás após cirurgia e novo estilo de vida (Foto: Gleice Medeiros)
Em janeiro de 2011, ela era obesa e pesava cinquenta e cinco quilos a mais que o indicado pela balança agora. Realidade muito distante da corredora, que dá suas passadas no asfalto ao lado de seus amigos, sorridente e animada.
- Não consigo me ver sem correr, faz parte da minha vida - disse.
Antes, o que Isa não conseguia era se ver nas fotos. Era difícil aceitar o próprio corpo e entender como havia deixado chegar naquele ponto. Mas o fato é que já tinha chegado e isso a estava incomodando, enquanto problemas de saúde iam aparecendo. E, um dia, vendo uma reportagem do Fantástico, telejornal da TV Globo, ela decidiu que era hora de mudar.
As pessoas me perguntavam: ‘vc não tem medo da cirurgia?’. Eu dizia: ‘não, eu tenho medo de morrer de obesidade’"
Isa Varella
- A matéria era sobre acidentes na rua. O ônibus virou e como as pessoas saiam dali? Elas tinham que subir pelo banco e sair pelo teto solar. Eu pensei: eu não conseguiria salvar a minha vida - contou.
Isa tentou nutricionista e dieta, mas nada adiantava. Optou pela cirurgia bariátrica, ou seja, um procedimento que reduz o tamanho do estômago o que faz o paciente perder sensilvelmente dua fome, ao ficar saciado com menos comida. E ele termina por perder peso de forma bem rápida.
- As pessoas me perguntavam: ‘vc não tem medo da cirurgia?’. Eu dizia: ‘não, eu tenho medo de morrer de obesidade’ – disse.
Obesidade deve ser encarada como doença
A preocupação de Isa não era excessiva e, sim, um passo necessário para buscar mudar sua situação. Segundo o médico Dr. Aloan Júnior, especialista nesse tipo de procedimento, muitos acabam julgando a obesidade como uma opção da pessoa, que tem o simples hábito de comer muito.
Corrida vira paixão para paciente de cirurgia barátrica (Foto: Gleice Medeiros)Isa agradece suas conquistas na escada do Cristo
Redentor (Foto: Gleice Medeiros)
- A obesidade é vista ainda hoje como problema mais relacionado ao comportamento e não como uma doença em si. A ideia é que o gordinho, por opção dele, come e pronto. E obesidade é uma doença. E essa visão simplista da obesidade, ligada à parte estética, começa a se tornar secundária - ressaltou o médico.
Em seu depoimento ao site, Isa relata exatamente o lado da obesidade relacionado à saúde e não, apenas, a questão da forma física. Ela ainda passou a escrever sobre seu processo de mudança, para que isso lhe desse mais força em um blog com título sugestivo: 'Em busca de um ideal'.
- Eu não fiz cirurgia por estética, comecei a ter problemas de saúde, pico de pressão, problema de circulação. Eu não conseguia mais andar, nem trabalhar direito - relembrou.
Eu estou magra, mas não sou magra. Sou ex-obesa. Tenho que me policiar muito para não voltar a engordar "
Isa Varella
Isa é professora do município do Rio de Janeiro e suas turmas são formadas por crianças pequenas. Ela trabalha em duas escolas e faz pós-graduação. Naturalmente, Isa está sempre na correria durante seu cotidiano. Mas as primeiras passadas mesmo, na rua, como forma de exercício, aconteceram nove meses após a cirurgia.
- Eu me inscrevi numa prova. Fui caminhar e vi um bando de gente correndo. Eu pensei: ‘não quero ser a última e não quero fazer em mais de uma hora’. Comecei a trotar e caminhar e completei o percurso. Dei a volta na Lagoa (Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro). Isso me estimulou. Comecei a me inscrever em outras corridas – contou.
Isa passou a fazer amigos nas corridas e, atualmente, participa de um grupo onde o lema é juntar pessoas que amam o esporte e têm por objetivo principal correr e se divertir. O nome? 'Correndo na Amizade', que reforça os laços criados com outros corredores a partir de suas primeiras passadas. Isa gosta de correr distâncias mais curtas e busca velocidade nos cinco quilômetros. Antes, a diretora de um de seus colégios dizia que parecia que Isa carregava o mundo nas costas. Ela respondeu:
- Eu estava carregando 55 quilos nas costas, isso sim.
Hoje, mais leve e de bem com a vida, ela segue sua rotina de exercícios, mas sem se esquecer de todos os desafios por ela efrentados e vencidos.
Corrida vira paixão para paciente de cirurgia barátrica (Foto: Gleice Medeiros)Isa emagreceu de forma correta, segundo médico,
ao mudar seu estilo de vida (Foto: Gleice Medeiros)
- Eu estou magra, mas não sou magra. Sou ex-obesa. Tenho que me policiar muito para não voltar a engordar – disse, determinada a nunca mais ter problemas de obesidade.
Até hoje, Isa frequenta sessões de terapia em grupo e, também, individual. A coordenadora do grupo é a psicóloga Marli Vieira, que é a responsável por atender pacientes que vão fazer a cirugia bariátrica e, depois, dá sequência ao tratamento com encontros mensais. Importante saber que todos os pacientes que enfrentam a decisão de operar o estômago precisam de um laudo psicológico, segundo Marli Vieira. Ela, portanto, acompanha os pacientes momentos antes da cirurgia e por um ano e meioa a dois ano após o procedimento.
Ao falar do caso de Isabela, a psicóloga é só elogios, tanto pela sua determinação quanto pela assiduidade nas sessões de terapia.
- A cirurgia acontece de forma muito rápida. E ela é no estômago, e não na cabeça. A mexida com a pessoa, portanto, é através da fala, da terapia. E isso leva um tempo – explicou.
Corrida vira paixão para paciente de cirurgia barátrica (Foto: Gleice Medeiros)Bonequinha que enfeitou o bolo de comemoração
após um ano da cirurgia (Foto: Gleice Medeiros)
A dedicação de Isa ao esporte é outro motivo para que tanto o Dr. Aloan quanto a psicóloga elogiem a ex-paciente. O médico explicou que Isa não apenas emagreceu, mas fez isso da forma correta, praticando atividade física. A psicóloga aproveitou para ressaltar que no caso da corredora, não houve uma troca de compulsão, da comida pelo esporte. Mais um ponto favorável para Isabela:
- Ela tem prazer na corrida, prazer no esporte. Mas não é uma fuga. Seria perigoso para mim se isso fosse uma fuga, mas não é – elogiou.
- Hoje ela tem atividade que promove até certo ponto uma garantia de uma não re-engorda. Infelizmente, 40% dos pacientes operados que emagrecem voltam a ficar obesos no período de cinco a sete anos – alertou Dr. Aloan Jr, ao mesmo tempo em que elogiava a Isa.
Saiba mais: cirurgia bariátrica
Corrida vira paixão para paciente de cirurgia barátrica (Foto: Arquivo Pessoal)Fotos da Isa antes e durante seu emagrecimento:
pedido da psicóloga (Foto: Arquivo Pessoal)
Segundo o médico Dr. Aloan Jr., a cirurgia bariátrica é um procedimento relativamente simples. O ponto em questão é que o obeso traz em si dificuldades, não só anatômicas, como referente ao seu sobrepeso, mas, também, outras complicações metabólicas, que acabam por tornar um procedimento mais delicado.
- Hoje a cirurgia bariátrica só está autorizada para obesos de grau 2 com índice de massa corporal acima de 35 e com doenças associadas. Pacientes diabéticos com sobrepeso, isto é, índice de massa corporal entre 25 e 30, ou então com obesidade de grau 1, que possivelmente se beneficiariam desse tipo de cirurgia, não tiveram esse procedimento homologado para seus casos. Mas há pesquisas buscando dados para tentar a aprovação desse procedimento nessa faixa de peso – explicou o médico.
O paciente após se operar perde peso com rapidez. Existe, portanto, uma dificuldade de se reconhecer durante o processo de emagrecimento. Por isso, o tratamento com psicólogo após a cirurgia é de extrema importância, segundo Marli Vieira.
Eu quero que eles façam tipo book, porque o espelho não revela a mudança. A foto vai mostrar àquele paciente como ele era antes para usar como comparação, como parâmetro."
Marli Vieira, psicóloga
- A primeira coisa que peço é uma foto. Depois da cirurgia, eu peço uma foto por mês. Eu quero que eles façam tipo book, porque o espelho não revela a mudança. A foto vai mostrar àquele paciente como ele era antes para usar como comparação, como parâmetro. As mudanças vão acontecendo no rosto, no queixo, no braço... Aí eles vão dar valor a essa cirurgia, enfrentando essa mudanças – relatou a psicóloga.
Ela contou que há muitos casos em que o paciente não consegue se perceber magro. Então, são essas questões comportamentais importantes a serem trabalhadas.

Um comentário:

  1. Fiz bariátrica a nove meses emagreci 45 kg e sei bem da sensação q ela está sentindo. é como fosse um renascimento. Parabéns à ela que seja muito feliz nessa nova jornada.

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