Após procedimento cirúrgico de redução do estômago, Isa Varella apaixona-se por corrida e faz do esporte seu momento de lazer com saúde e bons amigos
De joelhos no chão, mãos no rosto para cobrir suas lágrimas. Não, não são de tristeza. A emoção de Isabela está atrelada a uma vitória pessoal. Hoje, ela é corredora e apaixonada por esporte, mas, há um ano, Isa tinha dificuldades em realizar os pequenos movimentos necessários no dia-a-dia.
Em janeiro de 2011, ela era obesa e pesava cinquenta e cinco quilos a mais que o indicado pela balança agora. Realidade muito distante da corredora, que dá suas passadas no asfalto ao lado de seus amigos, sorridente e animada.
- Não consigo me ver sem correr, faz parte da minha vida - disse.
Antes, o que Isa não conseguia era se ver nas fotos. Era difícil aceitar o próprio corpo e entender como havia deixado chegar naquele ponto. Mas o fato é que já tinha chegado e isso a estava incomodando, enquanto problemas de saúde iam aparecendo. E, um dia, vendo uma reportagem do Fantástico, telejornal da TV Globo, ela decidiu que era hora de mudar.
- A matéria era sobre acidentes na rua. O ônibus virou e como as pessoas saiam dali? Elas tinham que subir pelo banco e sair pelo teto solar. Eu pensei: eu não conseguiria salvar a minha vida - contou.
Isa tentou nutricionista e dieta, mas nada adiantava. Optou pela cirurgia bariátrica, ou seja, um procedimento que reduz o tamanho do estômago o que faz o paciente perder sensilvelmente dua fome, ao ficar saciado com menos comida. E ele termina por perder peso de forma bem rápida.
- As pessoas me perguntavam: ‘vc não tem medo da cirurgia?’. Eu dizia: ‘não, eu tenho medo de morrer de obesidade’ – disse.
Obesidade deve ser encarada como doença
A preocupação de Isa não era excessiva e, sim, um passo necessário para buscar mudar sua situação. Segundo o médico Dr. Aloan Júnior, especialista nesse tipo de procedimento, muitos acabam julgando a obesidade como uma opção da pessoa, que tem o simples hábito de comer muito.
- A obesidade é vista ainda hoje como problema mais relacionado ao comportamento e não como uma doença em si. A ideia é que o gordinho, por opção dele, come e pronto. E obesidade é uma doença. E essa visão simplista da obesidade, ligada à parte estética, começa a se tornar secundária - ressaltou o médico.
Em seu depoimento ao site, Isa relata exatamente o lado da obesidade relacionado à saúde e não, apenas, a questão da forma física. Ela ainda passou a escrever sobre seu processo de mudança, para que isso lhe desse mais força em um blog com título sugestivo: 'Em busca de um ideal'.
- Eu não fiz cirurgia por estética, comecei a ter problemas de saúde, pico de pressão, problema de circulação. Eu não conseguia mais andar, nem trabalhar direito - relembrou.
Isa é professora do município do Rio de Janeiro e suas turmas são formadas por crianças pequenas. Ela trabalha em duas escolas e faz pós-graduação. Naturalmente, Isa está sempre na correria durante seu cotidiano. Mas as primeiras passadas mesmo, na rua, como forma de exercício, aconteceram nove meses após a cirurgia.
- Eu me inscrevi numa prova. Fui caminhar e vi um bando de gente correndo. Eu pensei: ‘não quero ser a última e não quero fazer em mais de uma hora’. Comecei a trotar e caminhar e completei o percurso. Dei a volta na Lagoa (Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro). Isso me estimulou. Comecei a me inscrever em outras corridas – contou.
Isa passou a fazer amigos nas corridas e, atualmente, participa de um grupo onde o lema é juntar pessoas que amam o esporte e têm por objetivo principal correr e se divertir. O nome? 'Correndo na Amizade', que reforça os laços criados com outros corredores a partir de suas primeiras passadas. Isa gosta de correr distâncias mais curtas e busca velocidade nos cinco quilômetros. Antes, a diretora de um de seus colégios dizia que parecia que Isa carregava o mundo nas costas. Ela respondeu:
- Eu estava carregando 55 quilos nas costas, isso sim.
Hoje, mais leve e de bem com a vida, ela segue sua rotina de exercícios, mas sem se esquecer de todos os desafios por ela efrentados e vencidos.
- Eu estou magra, mas não sou magra. Sou ex-obesa. Tenho que me policiar muito para não voltar a engordar – disse, determinada a nunca mais ter problemas de obesidade.
Até hoje, Isa frequenta sessões de terapia em grupo e, também, individual. A coordenadora do grupo é a psicóloga Marli Vieira, que é a responsável por atender pacientes que vão fazer a cirugia bariátrica e, depois, dá sequência ao tratamento com encontros mensais. Importante saber que todos os pacientes que enfrentam a decisão de operar o estômago precisam de um laudo psicológico, segundo Marli Vieira. Ela, portanto, acompanha os pacientes momentos antes da cirurgia e por um ano e meioa a dois ano após o procedimento.
Ao falar do caso de Isabela, a psicóloga é só elogios, tanto pela sua determinação quanto pela assiduidade nas sessões de terapia.
- A cirurgia acontece de forma muito rápida. E ela é no estômago, e não na cabeça. A mexida com a pessoa, portanto, é através da fala, da terapia. E isso leva um tempo – explicou.
A dedicação de Isa ao esporte é outro motivo para que tanto o Dr. Aloan quanto a psicóloga elogiem a ex-paciente. O médico explicou que Isa não apenas emagreceu, mas fez isso da forma correta, praticando atividade física. A psicóloga aproveitou para ressaltar que no caso da corredora, não houve uma troca de compulsão, da comida pelo esporte. Mais um ponto favorável para Isabela:
- Ela tem prazer na corrida, prazer no esporte. Mas não é uma fuga. Seria perigoso para mim se isso fosse uma fuga, mas não é – elogiou.
- Hoje ela tem atividade que promove até certo ponto uma garantia de uma não re-engorda. Infelizmente, 40% dos pacientes operados que emagrecem voltam a ficar obesos no período de cinco a sete anos – alertou Dr. Aloan Jr, ao mesmo tempo em que elogiava a Isa.
Saiba mais: cirurgia bariátrica
Segundo o médico Dr. Aloan Jr., a cirurgia bariátrica é um procedimento relativamente simples. O ponto em questão é que o obeso traz em si dificuldades, não só anatômicas, como referente ao seu sobrepeso, mas, também, outras complicações metabólicas, que acabam por tornar um procedimento mais delicado.
- Hoje a cirurgia bariátrica só está autorizada para obesos de grau 2 com índice de massa corporal acima de 35 e com doenças associadas. Pacientes diabéticos com sobrepeso, isto é, índice de massa corporal entre 25 e 30, ou então com obesidade de grau 1, que possivelmente se beneficiariam desse tipo de cirurgia, não tiveram esse procedimento homologado para seus casos. Mas há pesquisas buscando dados para tentar a aprovação desse procedimento nessa faixa de peso – explicou o médico.
O paciente após se operar perde peso com rapidez. Existe, portanto, uma dificuldade de se reconhecer durante o processo de emagrecimento. Por isso, o tratamento com psicólogo após a cirurgia é de extrema importância, segundo Marli Vieira.
- A primeira coisa que peço é uma foto. Depois da cirurgia, eu peço uma foto por mês. Eu quero que eles façam tipo book, porque o espelho não revela a mudança. A foto vai mostrar àquele paciente como ele era antes para usar como comparação, como parâmetro. As mudanças vão acontecendo no rosto, no queixo, no braço... Aí eles vão dar valor a essa cirurgia, enfrentando essa mudanças – relatou a psicóloga.
Ela contou que há muitos casos em que o paciente não consegue se perceber magro. Então, são essas questões comportamentais importantes a serem trabalhadas.
Fonte: Globo Esporte
Fiz bariátrica a nove meses emagreci 45 kg e sei bem da sensação q ela está sentindo. é como fosse um renascimento. Parabéns à ela que seja muito feliz nessa nova jornada.
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