segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

# O Que Podemos Aprender com a Bunda da Scarlett Johansson

Se você ainda não viu, vai receber logo um email ou vai pular em sua timeline no Facebook uma série de fotos da Scarlett Johansson de biquíni azul na praia exibindo uma coisa que para muitos parece um absurdo: um corpo de gente normal. Muitas mulheres foram à loucura e deram um pulo de felicidade para cada furinho de celulite contato na bunda e nas pernas da musa. Enviaram fotos para seus namorados dizendo: “Viu? Ela também tem!”, como se isso fosse a descoberta do século.
A observação dessas fotos me surpreendeu por dois motivos (e nenhum deles se refere aos furinhos na bunda da Scarlett):
O primeiro é reafirmar os danos cerebrais que estão sendo trazidos às vidas das pessoas em nome da descontrolada busca pela perfeição dos corpos. Queremos ser perfeitas. Gastamos horas na academia não em busca de uma vida mais saudável, e sim em busca de um corpo surrealmente perfeito. Vamos às mesas de cirurgias querendo nos transformar em seres iguais a todos os outros que seguem o padrão de beleza estabelecido. Imagino como será a nossa reação em constatar, daqui há alguns anos, que nos transformamos em seres sem identidades e peculiaridades, já que queremos ser todos iguais. Hoje a moda é ter peitão e milhares de pessoas entram na faca todos os dias para poder se enquadrar no padrão – e não porque realmente acham que seus peitos não são bonitos. Se a ditadura invisível da beleza não impusesse que peitos grandes são ideais, tenho certeza que mais da metade dessas pessoas não teria se submetido a uma cirurgia para sentirem que fazem parte de algo. Imagina se daqui há um tempo o padrão se inverter, ditando que seios pequenos são a tendência do momento – acompanharemos a legião de mulheres entrando na faca para retirar silicones e reassumir seus peitinhos novamente. Ou seja – será que estamos mudando porque realmente acreditamos nessa mudança ou porque queremos seguir o padrão como carneirinhos sem opinião própria?
No meu ponto de vista, o grande perigo desses excessos é que eles estão nos fazendo perder tempo com as coisas erradas. Temos sim que cuidar dos nossos corpos, mas porque eles são os nossos templos. Passaremos a vida toda dependendo deles e não queremos chegar a meia idade com a nossa base toda destruída. Mas, ao se transformar em paranóia, esse cuidado excessivo faz com que deixemos de usar nosso precioso tempo para cuidar do que realmente importa – a parte de dentro. Queremos ter uma estética bonita mas estamos deixando o interior de lado. Não é raro chegarmos para conversar com pessoas lindas de morrer e constatar, minutos depois, que elas andam esquecendo de malhar o cérebro. A intenção aqui não é estigmatizar e dizer que pessoas lindas não podem ser inteligentes, mas apontar para o fato de que quem gasta tempo demais se preocupando com a estética, acaba ficando com pouco tempo para cuidar do resto. Tomemos como exemplo as mulheres – mesmo as que não chegaram no nível da paranóia, já gastam horas preciosas com estética. Vamos fazer uma conta básica de quanto tempo as mulheres normalmente gastam por mês se preocupando com beleza:
56 horas por mês. 672 horas por ano. Não sei se para você isso é normal, mas para mim é um resultado assustador. Somando isso às horas que passamos no trabalho, no trânsito, comendo, dormindo, etc, é fácil constatar que sobra mesmo pouco tempo para se dedicar a outras coisas mais relevantes. É claro que ninguém aqui está dizendo que as mulheres deveriam sair por aí peludas e largadas, mas deveríamos nos questionar se realmente estamos gastando tempo com as coisas certas.
E a maior ironia é que muitas mulheres são extremamente vaidosas porque, além de se sentirem bem assim, acreditam que isso é um fator crucial na hora de atrair os homens. Mal elas sabem que se usassem metade desse tempo refletindo e estudando sobre questões da vida que as tornariam pessoas mais interessantes ou até mesmo (não riam!) treinando técnicas de como fazer um boquete matador, elas fariam muito mais sucesso com os homens. Porque homem até repara sim em celulite, estria, unha feita, mas se interessa muito mais em saber se a mulher tem atitude. E homem que é homem de verdade, gosta da mulher do jeito que ela é: com suas curvas e seus defeitos. Eu duvido profundamente da masculinidade de um homem que rejeitaria uma mulher que está com os pelos na virilha um pouco crescidos, mas acho totalmente possível que um homem rejeite uma mulher que se comporta como uma múmia na cama, por achar que já fez demais em gastar horas se esforçando para ficar gostosa.
Voltando ao assunto da polêmica da bunda da Scarlett, o outro motivo que me surpreende é que tem gente que ainda nos dias de hoje, acredita na beleza surreal das mulheres na Tv/cinema e nas revistas. Na TV/cinema, os defeitos são disfarçados com a luz perfeita, com maquiagem profissional e pelas diversas repetições das cenas em busca do ângulo perfeito. E não precisa ser um expert em Photoshop para saber que todos os defeitos estéticos humanos podem ser corrigidos pelas mais diversas técnicas nas mãos de especialistas.  Ou seja, as revistas de beleza só servem para te fazer sentir feia e te convencer que você deve consumir cada vez mais produtos para ficar parecida com uma pessoa que não existe na vida real.
E pra terminar, digo que acho linda a Scarlett nas fotos de biquíni azul, com todas as suas imperfeições de gente de verdade. Até porque, charme não pode ser criado por photoshop. E porque um corpo real me atrai muito mais do que um corpo de faz-de-conta.




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